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Dra Silvana Leonel

A Morte nos rouba o Plano A

Sheryl Sandberg, a executiva vice-presidente de operações do Facebook, perdeu seu marido de forma inesperada no último 02 de maio. Dave Goldberg, 47 anos, presidente da SurveyMonkey, morreu devido às consequências de um traumatismo craniano, após uma queda, enquanto se exercitava numa academia. A família passava férias no México e todos podem imaginar a tristeza e a dor que advieram deste trágico acontecimento.
A morte atinge milhares de pessoas todos os dias, mas neste caso, algo inusitado pode trazer incentivo e aprendizado para muitos que passam pela mesma situação.
Sheryl, após 30 dias da perda de seu marido, manifestou-se em um emocionante depoimento, homenageando seu companheiro de vida e de caminhada, com quem teve a felicidade de escrever seu PLANO A.

Somos todos assim, postergamos encarar esta realidade chamada “morte”.
Minha forma de homenagear este casal é compartilhando sua história e seu aprendizado, em que plano dimensional for, com plano A e B ou sem nenhum deles.
Sheryl nos traz uma lição de entendimento profundo sobre o que é viver uma perda, se expondo e compartilhando suas dificuldades, valorizando o que é necessário e dignificando o amor.

Só posso concordar com ela!
Que não hajam camuflagens para a dor, que não hajam falas não ditas, abraços não dados, amores não perpetuados!

A seguir, as lúcidas palavras de Sheryl:
“Hoje é o fim do ‘Sheloshim’, os primeiros trinta dias de luto, para meu amado marido. O judaísmo denomina de ‘Shiva’ um período de intenso luto, que dura sete dias após o enterro de alguém querido. Depois do Shiva, a rotina pode voltar ao normal, mas é o fim do Sheloshim que marca a realização completa do luto por um cônjuge.

Um amigo de infância meu, que agora é um rabino, recentemente me disse que a oração mais poderosa que ele já leu foi: ‘não me deixe morrer enquanto ainda estiver vivo’. Eu nunca teria entendido essa oração antes de perder Dave. Agora eu entendo.

Eu penso que, quando uma tragédia acontece, ela nos apresenta uma escolha. Você pode se render ao vazio que enche seu coração, seus pulmões, tira sua capacidade de pensar ou até mesmo de respirar. Ou você pode tentar encontrar o sentido de tudo isso. Nesses últimos trinta dias, eu fiquei perdida no vazio por muitos momentos. E eu sei que muitos momentos futuros serão consumidos do mesmo jeito pelo mesmo vazio.
Mas, quando eu posso, eu quero escolher a vida e o significado.

E é por isso que eu estou escrevendo: para marcar o fim do Sheloshim e dar de volta um pouco do que os outros têm me dado. Enquanto a experiência de doar é profundamente pessoal, a braveza daqueles que compartilharam suas próprias experiências tem me ajudado a me recolocar nos eixos. Alguns dos que abriram seus corações foram os meus amigos mais próximos. Outros foram totais desconhecidos que compartilharam sabedoria e conselhos publicamente. Então eu estou compartilhando o que eu aprendi, na esperança de que isso ajude outro alguém. Na esperança de que exista algum sentido para esta tragédia.

Eu envelheci trinta anos nestes trinta dias. Eu estou trinta anos mais triste. Eu me sinto como se fosse trinta anos mais sábia.

Eu ganhei um entendimento bem mais profundo de o que é ser uma mãe com a agonia que eu senti quando meus filhos gritaram e choraram, e com a conexão que minha mãe teve ao sentir meu sofrimento. Ela tem tentado preencher o vazio na minha cama, me abraçando firme toda noite enquanto eu choro até dormir.
Ela tem lutado para segurar suas próprias lágrimas em lugar das minhas. Ela tem me explicado que a angústia que eu estou sentindo é ao mesmo tempo minha e dos meus filhos, e eu entendi que ela estava certa quando eu vi a dor nos olhos dela.

Eu aprendi que eu nunca vou realmente saber o que dizer para outros que precisam de conforto. Eu acho que eu entendi tudo errado antes; eu tentei afirmar a todo mundo que eu estava bem, pensando que a esperança era a coisa mais confortável que eu poderia oferecer. Um amigo meu com câncer avançado me disse que a pior coisa que as pessoas podem dizer a ele é: “tudo vai ficar bem”. Aquela voz na cabeça dele ficava gritando: “como você sabe que tudo vai ficar bem? Você não entende que eu posso morrer?”. Eu aprendi nesse último mês que ele estava tentando me aconselhar. A real empatia é, às vezes, não insistir que tudo vai ficar bem, mas saber que provavelmente não vai.

Quando as pessoas dizem para mim “você e seus filhos irão encontrar a felicidade de novo”, meu coração me diz: “sim, eu acredito nisso, mas eu sei que eu nunca mais vou sentir o prazer puro novamente”. Aqueles que têm dito “você irá encontrar um ‘novo normal’, mas nunca será tão bom quanto antes” me confortam mais porque eu sei que eles estão falando a verdade.

Até um simples “como você está?” – na maioria das vezes, perguntado na melhor das intenções – seria melhor substituído por um “como você está hoje?”. Quando me perguntam “como você está?”, eu me esforço e me impeço de gritar: “meu marido morreu a um mês atrás, como você acha que eu estou?”. Quando eu escuto “como você está hoje?”, eu percebo que essa pessoa sabe o que é o máximo que eu consigo fazer agora é passar cada dia.

Eu tenho aprendido sobre algumas coisas práticas que importam. Sabemos agora que o Dave morreu

imediatamente, mas eu não sabia disso na ambulância. A ida até o hospital foi completamente lenta. Eu ainda odeio cada carro que não deu passagem, cada pessoa que se importava mais em chegar ao seu destino alguns minutos antes do que dar passagem para nós passarmos. Eu notei isso enquanto eu dirigia em diversas cidades e diversos países. Vamos todos sair do caminho! O pai, parceiro ou filho de alguém talvez dependa disso.

Eu tenho aprendido o quão efêmera cada coisa pode ser sentida, e talvez isso seja tudo. Que qualquer que seja o “tapete” em que você esteja, ele pode ser puxado de você sem nenhum aviso. Nos últimos trinta dias eu ouvi de várias mulheres que perderam os maridos que vários tapetes foram puxados. Algumas suportaram e lutaram sozinhas com o sofrimento emocional e a insegurança financeira. Me parece tão errado que nós abandonemos essas mulheres e suas famílias quando elas mais precisam.

Eu tenho aprendido a pedir ajuda, e tenho percebido o quanto de ajuda eu preciso. Até agora, eu tenho sido a irmã mais veja, a diretora de operações, a doadora e a organizadora. Eu não planejei isso, e quando aconteceu, eu não era capaz de fazer a maioria das coisas. Os mais próximos a mim foram os que comandaram tudo. Eles planejaram. Eles arrumaram. Eles me disseram para sentar e me lembrar de comer. Eles ainda foram tanto para apoiar a mim e aos meus filhos!

Eu tenho aprendido que a resiliência pode ser aprendida. Adam Grant me ensinou três coisas que são essenciais para a resiliência e que eu posso aprender todas elas. Personalização: admitir que não é minha culpa. Ele me disse para banir a palavra “desculpa”. Para dizer a mim mesma várias e várias vezes que não é minha culpa.

Permanência: lembrar que eu não vou me sentir assim para sempre. Que vai ficar melhor. Infiltração: isso não vai afetar cada parte de mim. É a habilidade de permanecer saudável.

Para mim, começar essa transição de voltar para o trabalho tem sido salvadora, a chance de me sentir útil e conectada. Mas eu descobri que mesmo essas conecções mudaram. Muitos dos meus colegas de trabalho têm um olhar de medo à medida que eles se aproximam. Eu soube quando eles queriam me ajudar mas não tinham certeza de como fazer isso. “Devo mencionar isso? Não devo falar disso? Se eu falar, o que diabos vou dizer?”. Eu percebi que, para restabelecer a proximidade com meus colegas que sempre foram importantes para mim, eu precisava deixar eles entrarem. E isso significava ser o mais aberta e vulnerável que eu podia.

Eu disse para aqueles com quem eu trabalho mais que eles poderiam me fazer perguntas honestas, e eu iria responder. Eu também disse que tudo bem se eles quisessem falar de como eles se sentiram. Uma colega admitiu que ela estava dirigindo até minha casa frequentemente, em dúvida se entrava ou não. Outro disse que ele ficava paralisado quando eu estava por perto, preocupado que ele talvez dissesse a coisa errada. Falando abertamente do medo de dizer e fazer alguma coisa errada. Um dos meus desenhos favoritos de todos os tempo é um elefante na sala do telefone, escrito “isso é o elefante”. Uma vez que eu abordei o elefante, nós pudemos tirar ele da sala.

Ao mesmo tempo, há momentos em que eu não consigo deixar as pessoas entrarem. Eu fui a uma noite na escola quando as crianças mostram aos pais os desenhos nas paredes das salas de aula. Muitos dos pais, os quais também têm sido muito gentis, tentaram fazer contato ou falar algo que eles pensavam ser confortável. Eu olhava para baixo o tempo todo, então nenhum deles olhava nos meus olhos por meu medo disso me fazer piorar. Eu espero que eles tenham entendido.

Eu tenho aprendido sobre gratidão. Real gratidão pelas coisas que eu tomava como garantidas antes, como a vida. Como alguém de coração partido, eu olhava para meus filhos todos os dias e agradecia por eles estarem vivos. Eu aprecio cada sorriso, cada abraço. Eu não vejo mais cada dia como garantido. Quando um amigo me disse que ele odiava aniversários e, por isso, não os celebrava, eu olhei para ele em meio a lágrimas: “Celebre seu aniversário, caramba! Você tem sorte de ter cada um deles”. Meu próximo aniversário vai ser muito deprimente, mas eu estou determinada a celebrá-lo no meu coração mais do que eu jamais celebrei um aniversário antes.

Eu sou realmente agradecida aos muitos que ofereceram sua simpatia. Um colega me disse que sua esposa, quem eu nunca conheci, decidiu mostrar seu apoio indo de volta à escola para obter seu diploma, coisa que ela estava enrolando por anos para fazer. Sim! Quando as circunstâncias permitem, eu acredito, mais do que nunca, em aprender. E muitos homens, alguns que eu conheço e outros que eu sei que nunca irei conhecer, estão honrando a vida de Dave passando mais tempo com suas famílias.

Eu não consigo expressar a gratidão que eu senti à minha família e aos meus amigos que têm feito tanto para me ajudar, e continuam fazendo. Nos momentos brutais quando eu sou preenchida pelo vazio, quando os meses e anos me parecem vazios e intermináveis, só as faces deles me colocam de volta nos eixos. Minha gratidão por eles não tem fim.

Eu estava falando para um desses amigos sobre as atividades de pais e filhos que Dave não está aqui para fazer. Nós pensamos num plano para colocar ele nisso. Eu chorei para ele e disse “mas eu quero o Dave, eu quero a primeira opção”. Ele colocou o braço envolta de mim e disse “a primeira opção não está disponível, então fique satisfeita com a opção B”.

Dave, para honrar sua memória e por pra cima seus filhos como eles merecem, eu prometo fazer tudo que eu posso para me satisfazer com a opção B. E mesmo quando o ‘Sheloshim’ acabe, eu ainda estarei em luto pela opção A. Como Bono cantou “there is no end to grief… And there is no end to love”.
Eu te amo, Dave.”

Dave Goldberg faleceu em 2015. Em 2017 Sheryl publicou o livro: Plano B onde descreve toda sua experiência com a perda e a superação da morte de seu esposo. Ela concedeu uma entrevista a Revista Cláudia, que você poderá ler clicando neste link: https://claudia.abril.com.br/carreira/sheryl-sandberg/

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Sobre a Dra Silvana:

Médica, Psicoterapeuta, Terapeuta de Hipnose e Regressão, Executive Coach e Life Coach, cujo trabalho tem como enfoque o comportamento humano, as relações interpessoais, os distúrbios da depressão, síndrome do pânico, stress e baixa autoestima.

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